31 de mar. de 2008

O futuro presidente do Brasil, quem será?

O Brasil, desde que voltou a escolher um presidente, ainda não aprendeu a conviver com a democracia plenamente. De 1964 até 1989, gerações inteiras de pais e filhos; professores e alunos, patrões e empregados; empresas e trabalhadores; governos e governados, se acostumaram com a política da ditadura. Não havia um instrumento democrático de mudança. Apenas atravéas da arte, das instituições de ensino e dos meios de comunicação eram capazes de difundir alguma idéia e mesmo assim era censurados. De lá para cá, a liberdade de expressão e o voto direto do vereador ao presidente, mudaram a perspectiva e só agora os primeiros resultados começam a aparecer. Mas ainda falta muita coisa.
O primeiro exemplo foi um péssimo exemplo de escolha. O País foi atrás da campanha de marketing, até então desconhecida nestes moldes, e elegeu Fernando Collor. Um fenômeno cercado de showmícios, programa de rádio e TV qualificado e um perfil definido com base em pesquisas da estratégia do então PRN. O Caçador de Marajás era jovem, elegante, não tinha ligação a qualquer partido tradicional, venceu Lula, do PT, no segundo turno, e escapou de um duelo com Leonel Brizola do PDT por uma diferença de 455 mil votos pró Lula. Na verdade, Collor já havia sido prefeito biônico de Maceió e era da antiga Arena, ou seja: um legítimo representante da ditadura fantasiado de democrata, contra a corrupção e que prometia acabar com os altos índices de inflação.
Naquele momento, o ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, era o mais preparado de todos os candidatos da oposição à ditadura e fora do eixo PMDB - de onde surgiu também o PSDB - que já havia colocado Tancredo Neves no poder e porque morreu antes da posse foi substituído por José Sarney, um presidente que desgastou a legenda naquela eleição. O nome forte do grupo era Mário Covas do PSDB, mas que dividiu os votos com Lula e Brizola e mesmo apoiando o petista em segundo turno teve seus votos transferidos para Collor.
Collor assumiu. Parecia que tínhamos um presidente americano no Brasil. Brasília virou Washington,a casa da Dinda uma Disneylândia. Tudo era show, era espetáculo, não faltaram as risadinhas a cada discurso. Mas o tempo mostrou que o Plano Collor não vingou e o escândalo PC Farias - tesoureiro de campanha que enriqueceu graças a influência do presidente - o levaram ao grande tombo. Era tão americana a trama que parecia um filme hollywoodiano porque foi o próprio irmão Pedro Collor que denunciou tudo e depois morreu de câncer e PC Farias foi assassinado. O Brasil deu um contra golpe e exigiu o impeachament de Collor e ganhou o até então desconhecido Itamar Franco como presidente. Hoje, Collor é senador pelo PTB, eleito após oito anos de cassação dos direitos políticos. Covas, Brizola, até o Enéas que viviam batendo em Collor estão mortos. Sobraram Fernando Henrique e Lula, os presidentes dos anos seguintes, além de Paulo Maluf e Afif Domingues.
FHC teve dois mandatos à presidência (1995-2002), superando Lula, Brizola. Assim como Collor fugia dos debates na televisão porque as pesquisas eleitorais apontavam seu favoritismo. Veio do PMDB, antigo MDB e quando acusou o partido de arenoso, em alusão a antiga Arena, ajundou a fundar o PSDB em 1987. Ex-ministro da Fazenda do governo Itamar, implementou uma nova política econômica com o Plano Real, o suficiente para ganhar fôlego e oito anos de mandato. Do fracasso econômico e político com Collor, o País teve um presidente que trouxe resutados positivos e crescimento, mesmo ligado os partidos que sempre estiveram à frente do poder: PFL, PPB (hoje PP e ex-PDS), PTB (não mais o antigo partido de Getúlio Vargas, dos trabalhistas que migraram para o PDT de Brizola), além do PMDB que sempre teve força no Congresso Nacional a partir da Constituinte de 1988. Mas o País queria mais, um novo presidente, diferente, que fosse oposição à ditadura e aos que vieram após dela.
Lula, derrotado por Collor e FHC, amadureceu. Tornou-se um híbrido dele mesmo e de todos os grandes líderes nacionais dos ultimos 20 anos, seja os ruis, os mais ou menos ou os bons. De Ulysses Guimarães, o presidente do Congresso Nacional, da Assembléia Constituinte de 88 e líder da Campanha das Diretas Já, herdou a capacidade de relacionamento com os opostos. Almoça com Hugo Chavez, janta com Gerge W. Bush como tomava café com Antônio Carlos Magalhães e se fosse preciso chimarrão com Leonel Brizola. De Collor, herdou o marketing político: cada frase, cada palavra, cada passo, tem uma estratégia para a mídia. O carisma do povo brasileiro é fiel como tinham os seguidores de Brizola. A franqueza das palavras lembram os bons tempos de Mário Covas. A política econômica é espelhada no Plano Real de FHC e os aliados são quase os mesmos, a exceção é o PSDB que perdeu as duas eleições para Lula, primeiro com José Serra e depois com Geraldo Alckmin.
O Lula nordestino, ex-líder sindical, torneiro mecânico, que perdeu um dedo mínimo da mão esquerda, não deixou de ser ele mesmo no discurso da política para o trabalhador, para o pobre, contra a fome, por melhores salários. Conseguiu grandes avanços neste sentido. A moeda brasileira está forte, o País é apontado como emergente juntamente com a Rússia, a Índia e a China. O chamado BRIC (sigla que reúne estes quatro países) caminha para superar potências mundias e estar entre as 10 maiores do planeta nos próximos anos. Entretanto, ainda existe uma péssima herança da política no Brasil que nem o velho Lula - barrigudo e rebelde - tampouco o novo Lula - plastificado e tranqüilo - conseguiu mudar.
O Brasil ainda é uma tragédia social. Segue com uma política de saúde vergonhosa - seja na questão dos hospitais, no atendimento em postos de saúde, na falta de estrutura e na questão sanitária. As doenças - vide a dengue -, a sujeira, e a precariedade do atendimento às pessoas pobres precisa melhorar. O PAC - Programa de Aceleração do Crescimento - promete obras e investimentos. Só os sistemas de transporte frágeis, que inundam as estradas matando centenas de pessoas por semana, são um exemplo da falta de insvestimento em estrutura básica.
Apesar da melhora dos índices econômicos, estão nas ruas a fome, a miséria, a doença, a sujeira, a pobreza da estrutura das cidades. Quem conhece um País rico, nota de primeira, na volta ao Brasil o quê são as nossas ruas, calçadas, prédios, terrenos baldios, vilas, favelas, veículos, obras, bares, restaurantes e banheiros. Noventa por cento do que enxergamos é pobre, é sujo. E a violência está por toda parte. Menores assassinos, bandidos soltos, tráfico de drogas, assaltos, roubos de carro, seqüestros que causam pânico a ricos e também a pobres que morrem até por causa de R$ 20,00 no bolso. Sem falar da prostituição infantil entre outras mazelas.
O Brasil segue sendo um País corrupto. Lula pode ter afastado do governo quem quer que seja, mas não sairá zerado sob este aspecto. O esquema do Mensalão com 40 pessoas indiciadas e os demais esquemas que se alastram pelo País em governos estaduais e municipais refletem a impunidade do País. A justiça brasileira é branda, lenta e também é corrupta. Parece que o DNA do brasileiro possui uma herança doentia, onde levar vantagem não é roubar, favorecer o ilegal não é irregular, não ser assaltante mas desviar dinheiro público não é coisa de bandido.
O Brasil caminha para o progresso, mas em desordem contrariando o lema da Bandeira Nacional: Ordem e progresso. Mantida a democracia, cabe agora saber escolher o novo presidente e melhores governadores, prefeitos e representantes do Congresso nacional e dos legislativos municipais. Lula é o grande favorito em qualquer eleição, mas não terá por lei um terceiro mandato.
O presidente indicará um sucessor do partido, Dilma Russeff, a mais cotada. O PSDB ou aposta em José Serra, líder das pesquisas até aqui ou em Aécio Neves, governador mineiro de grande sucesso junto aos mineiros. O PSB tem Ciro Gomes, o PMDB parece disposto a seguir seu novo papel: flutuar em todos os ministérios e secretarias de todos os governos a ter candidato próprio. O PDT, depois da morte de Brizola, enfraqueceu e pode repetir Cristovam Buarque numa chapa. O DEM quer se lançar como um partido diferente do PFL que também negociava cargos, mas ainda não amadureceu um nome.
Heloísa Helena, como disse Brizola, é o sol nascente quando ele era o poente, no sentido de oposição a Lula. O PSOL é a oposição ao governo Lula. Diferente do PSDB que é o principal adversário. PSDB x PT é como a disputa de um clássico do futebol entre Cruzeiro x Atlético-MG, Grêmio x Internacional; Flamengo x Vasco; Corinthians x Palmeiras, na qual os técnicos usam o mesmo esquema tático, só mudam as cores e os jogadores. PT e PSDB são rivais políticos, mas jogam parecidos. Tanto que se Aécio Neves ficar de fora da eleição pelo PSDB e José Serra for o candidato do PSDB, não há como descartar que Aécio troque de partido e seja o candidato de Lula à presidência. O PSDB não quer terceiro mandado para Lula, mas FHC inventou a reeleição para se reeleger.
Quem será o novo presidente do Brasil? Façam suas apostas. A educação, a segurança pública, a saúde, e a manutenção da política economica desde o Real devem estar no discurso do novo líder nacional. O vencedor será aquele apontado ou apoiado por Lula x o candidato do PSDB? Teremos uma mulher no poder: Heloísa Helena x Dilma Russeff? Serra ou Aécio x Ciro? Ou Serra x Aécio com PT? O Data Folha fez uma série de simulações. Vote na enquete desta página. Discuta, dê a sua opinião. Se os partidos ainda se mistura, os candidatos trocam de legenda como trocam de camisa, é hora de trocar idéias. Pensar num futuro próximo que pode ser tão trágico como foi Collor, nem tão ruim assim como foi com Fernando Henrique Cardoso, um pouco melhor com Lula ou ainda mais promissor. As cartas estão na mesa.

3 de mar. de 2008

Porto Alegre rumo aos 2 BI

Somos hoje pouco mais de 1 milhão e meio de habitantes. Décima cidade mais populosa do Brasil. Em 1821, a população era de doze mil habitantes. Em 35, com a revolução Farroupilha a cidade se cerca, exige proteção às invasões. A cidade se liberta para o desenvolvimento, dez anos depois, quando caem as muralhas que a cercavam. É neste momento que se juntam à origem açoriana alemães e italianos. Em 1884, um marco que caracteriza o espírito de inovação dos portoalegrenses: quatro anos antes da lei àurea, escravos são libertados. À frente de seu tempo, a Capital dos gaúchos impõe uma marca de qualidade de seu povo e de sua representatividade. Hoje, porém, o município adormeceu.
O sistema urbano moderno exige trânsito funcional, áreas de lazer, economia aquecida, três urbanos e engenharia de trânsito inteligente, limpeza exemplar e, acima de tudo, modernidade. E o quêse vê, é sombra disso. Embora, o tempo passou como um três bala, como admitir que esta cidade esteja assim tão largada. O Centro é imundo, fedido e desagradável, nada acolhedor. Viva Porto Alegre! Ou Porto Alegre, viva! Não somos nem metade do que imaginamos ser. Não temos nem um quarto do que poderiamos ter. Tampouco, apresentamos um décimo do que deveríamos realizar.
É hora de abrirmos as cortinas do nosso tempo perdido. A cidade deve olhar para o rio e a sujeira. A escuridão, a violência e a truculência administrativa devem dar lugar a competência.
O baralho está à mesa. Quem vai dar a cartada certeira? Vem aí mais uma eleição municipal. E o seu voto é importante, como o debate e a cobrança. Não olhe apenas, não ouça somente, não sinta tampouco. Pense. Escolha aquele que tenha um plano estratégico com metas definidas que sejam realistas e inteligentes. O PT da deputada Federal Maria do Rosário e do ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto? Manoela d'Ávila do PCdoB, é aí Beleza? O PDT do deputado federal Vieira da Cunha que está mais para o PMDB (de novo?) do prefeito José Fogaça? O DEM do deputado Onix Lorenzon? E P-SOL de Luciana Genro, o PSDB da Governadora Yeda Crusius? o PTB de Sérgio Zambiazi? Um grande pleito, uma discussão que abre caminho para um novo desafio na Capital dos gaúchos.