24 de abr. de 2009

A gravação do milênio

É pau, é pedra, é o fim do Caminho. Assim, Tom Jobim e Elis Regina cantaram a mais espetacular canção, a mais sensacional apresentação brasileira para os americanos admirarem em Nova York. Mas a gravação do milênio, a absurdamente linda e imprevisível melodia apresentada em um show foi de um argentino. Astor Piazzolla, com seu bandoneon, encantou a todos num programa exibido no Brasil pela TV Globo, em 1985, quando Chico Buarque e Caetano Veloso ficaram anestesiados pela suavidade e agressividade da música do gênio Piazzolla. Eu me lembro de ter assistido na tevê. Tinha 17 anos e nunca mais vou esquecer.

22 de abr. de 2009

Bate-boca no STF é um grito no silêncio

Desde o dia que descobri, ainda na infância, que um juiz é a maior autoridade num tribunal jamais tive coragem de falar, tossir ou olhar nos olhos por muito tempo para aquela figura. Fui a algumas audiências de pequenas causas como réu, testemunha, preposto ou autor do processo. Confesso que aquele juramento todo, aquele clima formal sempre me deixou com um frio na barriga. Não tenho a que temer por crime algum ou deslize, mas em qualquer sala de justiça tenho frio na barriga. A impressão é que se abrir o bico vou ser preso, se contestar alguma coisa vou ser humilhado. É só impressão mesmo, até porque com o tempo a gente vê que não há nenhum mostro naquela posição superior.
Se não há cartão vermelho nem voz de prisão naquela sala, por quê o temor? É verdade que existem todos os tipos de advogados. Tems desde o que usa terno Armani com um supercelular e um lap-top de primeira linha, àquele de pastinha de couro surrada e terno xadrez cheio de caspa e cabelo gorduroso. O mesmo vale para as mulheres. Lindas, cheias de classe, mas geralmente com cara de poucos amigos. As mais populares geralmente são loiras de tailer, batom, unhas e bolsa vermelhas, falam pelos cotovelos, exalam um perfume exagero e estão sempre processando uma empresa de telefonia ou qualquer outra que tenha lesado o consumidor. E o cliente a chama pelo nome. Quando não sabe diz: "adevogada". Prefiro as de calça jeans, mais discretas, mais intelectuais.
Este é o mundo jurídico. Acima estão os desembargadores, presidentes de tribunais, ministros, promotores, procuradores, etc. São pessoas que dominam uma linguagem específica que adoram latir o latin quando deveriam falar a linguagem da população. Isso quando não há erros de concordância, pontuação, ortografia. Mas os boni mores (bons costumes) estão lá. Têm mania de falar difícil e serem prolixos na maioria. Não conseguem ser objetivos, tampouco claros. Dão margem à incompreensão e a ambiguidade nos relatos.
E quando há um bate-boca no STF (Supremo Tribunal Federal) entre os ministros Gilmar Mendes, o presidente da corte, e Joaquim Barbosa? Quem seria capaz de silenciá-los? Eu pensava que a justiça era só cega, mas pelo jeito ela é surda ou vai ficar muda diante de tamanho entrevero vexatório?
Foi um ato Ab irato (No ímpeto da ira) dos dois ministros, um grito no silêncio dos sombrios e austeros tribunais.



20 de abr. de 2009

Brasília tem vale Disney para deputados


Parecia que o maior problema aéreo do Brasil era fruto da crise dos controladores de voo, da falta de check-up mecânico dos aviões comerciais, da insegurança dos aeroportos ou mesmo da incompetência da Agência Nacional de Aviação Civil, Anac. Mas não. Nunca mais ouvimos falar do ex-presidente da entidade Milton Zuanazzi que pediu demissão em outubro de 2007 e, aos poucos, a situação melhorou. É certo que o aperto dos cintos nas contas da classe média brasileira inibiu a compra de passagens e o trânsito nas salas de embarque é bem menor. O desafio da atualidade é lembrar quem é o Zuanazzi da hora, ou pior: entender o esquema de bilhetes premiados de deputados federais e senadores. Não há mais overbooking, o que temos visto é um overtour, uma Disnelândia em Brasília.
Não podemos jamais esquecer que os erros do passado são incalculáveis não apenas do ponto de vista financeiro, mas pelo fato de que as vítimas dos acidentes aéreos que poderiam ser evitados não terão as vidas recuperadas. O dinheiro se refaz, quando o negativo vira positivo. A morte jamais retorna à vida. (leia o texto A Tragédia do vôo JJ 3054 - à época existia o acento ôo). Pior ainda: o dinheiro desperdiçado em Brasília poderia ser investido na melhoria do transporte aéreo brasileiro. Mas não, temos uma espécie de Baú da Felicidade para os deputados.

Quando se descobre que a comissão de ética da Câmara Federal possui deputados que cederam suas cotas de passagens aéreas para parentes e amigos, chegamos a conclusão de que vivemos numa nação de palhaços. Quem deveria fiscalizar o deslize, a falta de decoro, o abuso do poder é quem mais pratica a irregularidade. Aí não é parlamento, é circo. Mais grave ainda é ter a certeza de que se a imprensa não tivesse descoberto estes privilégios, tudo estaria como está. Ou seja: nenhum integrante do poder legislativo nacional seria contra o vale Disney de Brasília.
O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), admitiu que fez uso do crédito para viajar com parentes para Porto Seguro (BA) e foi um erro. Agora, promete verificar os abusos e novas regras vão ser estabelecidas nos próximos dias.
O P-Sol que é um partido de esquerda, inclinado a sempre bater nestas questões do desperdício do dinheiro público e faz uma oposição voraz a tudo, não se opôs ao vale Disney. Na verdade, como seus integrantes são contra o Capitalismo, a política Americana, ao Bush ao Obama e ao Tio Sam, têm se utilizado dos créditos para ações neste sentido. A deputada federal, Luciana Genro (P-Sol-RS), ex-candidata à prefeitura de Porto Alegre, disse na TV Bandeirantes que cedeu a passagem a um colega que foi à Venezuela participar de um ato de apoio ao presidente da Venezuela Hugo Chavez e a opressão norte-americana. Neste caso, poderíamos chamar de vale Cuba, que é a Disney dos socialistas. Em vez do Mickey, Fidel Castro. Sai o Pateta entra o Chavez. Fora Tio Patinhas, bem-vindo Evo Morales.
Virou piada. Tem o Eco Vale porque o deputado Federal Fernando Gabeira, do Partido Verde-RJ, foi outro que usou os créditos para passear com a família. Houve uma redução de 20% nas cotas de passagens a deputados depois que o escândalo veio à tona. Mas a cada dia se descobre novos abusos. São passagens para o exterior e nenhum destino cívico: Nova York, Paris, Buenos Aires. Agora há uma sindicância para apurar os excessos. Mas as famílias estão permitidas a viajar no crédito.

Nenhum deputado deveria ter direito a passagem alguma. Assim como numa empresa, teria que existir um orçamento para viagens de deputados a trabalho, a serviço da Nação. Cada viagem seria solicitada à presidência da Câmara que aprovaria ou não de acordo com o interesse público e o controle fiscal da casa. Tudo deveria estar no Diário Oficial da União e na Internet para a população conferir. Passeio, viagem de volta para casa precisa sair do bolso dos deputados. Ganham muito bem para morarem em Brasília e se deslocarem para suas bases políticas. Mas isso vai ser difícil de acontecer porque ainda não inventaram para os eleitores o vale-sonho: "Atenção senhores passageiros da aeronave Brasil, última chamada para o voo 171, portão zero, embarque imediato".

19 de abr. de 2009

A natureza da Natureza

Às vezes tenho a impressão de que passamos a vida inteira sem perceber a natureza da Natureza. Jamais a traduzimos em toda sua plenitude. Embora, haja aí a explicação de que o nosso tempo para contemplá-la por inteiro nunca será suficiente e, sendo assim, estamos aqui por um motivo especial. A cada dia tentamos entender o quê ela representa, a cada geração decifrar os seus mistérios. Apesar de toda a modernidade, da revolução industrial, do mundo tecnológico, ela está lá diante de nós quase como escrevendo sua história. Fala diversas línguas de um alfabeto infinito no qual temos dificuldades de ler seus fonemas tampouco juntar as orações.Van Gogh - Jardim Florido

A primeira lição deste processo de alfabetização é descobrir nossa própria natureza e se despir de todos os conceitos. Não há regras, nem fórmulas, muito menos lógica. Somente desta forma é possível aguçar a sensibilidade para começar a sentir quais são as mensagens da Natureza. Um bom exercício é analisar os ventos. Eles são a voz dela. Os gritos representam os ciclones e furacões, o
sussurro é um ventinho quase imperceptível, o minuano é quando assovia. Fala e sopra em diversas direções com propósito desconhecido, seja carregando frio ou calor. Ela é capaz de cuspir com a brisa e se manter em silêncio. São aqueles dias em que a janela está aberta nem as cortinas se mexem.Van Gogh - Estrada
Quantos de nós já comparamos a chuva ao choro de Deus.
Faz sentido, afinal as lágrimas da Natureza estão no Mar assim como o suor, tão salgados quanto os Oceanos. É bom lembrar que o choro nem sempre é triste. O maior de todos os sorrisos é quando tomados de emoção inundamos nossos olhos e sentimos o quanto é bom chorar. Nos rios está o sangue da Natureza numa circulação cheia de ramificações, afluentes que cortam o corpo de uma senhora cada vez mais maltratada. Mas o coração está lá no Centro da Terra quente e vivo, apesar de sangrar com frequência em erupções de vulcão, enfartar em tremores de terra e acima de tudo resistir.
As flores são as crianças da Natureza. Tão coloridas, cheias de vida e
recém brotadas. Os frutos são os jovens, brilhantes e atraentes. Os adultos são as folhas, mais equilibradas, algumas secas outras nem tanto. As árvores são os velhos. Nelas repousam todas as demais gerações de suas raízes, de uma semente, de uma primeira reprodução. Dão sombra e são a própria sabedoria. Se olhássemos para os velhos como admiramos um gigante Ipê Amarelo ou um Flamboyant no seu esplendor, já teríamos lido um capítulo importante da nossa história.
No espaço, o calor do Sol representa o homem. A Lua que está sempre ao seu lado é a mulher. Ele é dia, ela é noite. Um é luz, outra é sombra. Pode parecer aqui uma interpretação machista a respeito do Sol em relação a Lua. Mas não. Ele brilha, enquanto ela
reflete, dá a luz. O Sol seduz se expondo por inteiro. Ela não. Ora é cheia, ora é crescente, minguante ou é nova, quando temos que imaginar como ela está. E em todo o Espaço são únicas porque onde há milhares de estrelas, existem poucos satélites. E os planetas são outras naturezas de uma Natureza ainda maior, onde há cometas - os hiperativos do espaço - e as estrelas cadentes - os espermatozóides da via láctea.
O papel dos animais e dos seres-humanos é enigmático diante de tantas metáforas e desta rica interpretação a respeito da Natureza. Mas é simples decifrar. Os animais são os nossos sentimentos. Os pássaros levam os nossos sonhos e sempre voltam ao ninho. Os peixes carregam nossos
objetivos, é onde mergulhamos de cabeça sem respirar. Os mamíferos representam o nosso amor, afeto, amizade e ódio. É neles que estão os mais diversos tipos de relacionamentos seja para sobreviver ou para reproduzir. Os insetos são o nosso inconsciente, venenosos, peçonhentos, agitados, impulsivos, sem pensar.
Répteis, anfíbios, carnívoros, herbívoros. Não importa. Cada animal, cada nicho, cada bactéria é um pedaço de nós. Mas e os Seres-Humanos o quê são na Natureza? Somos os únicos que somamos todas as potencialidades da Natureza e capazes de pensar, agir não apenas por instinto. Mas quando não percebemos nos livros, nas escolas, na família, qual é a natureza da Natureza é porque não somos nada. E nada é tudo que pensamos que não somos quando na verdade somos a nossa própria Natureza.
15/07/2008 - 21:13