17 de ago. de 2007

A Tragédia do JJ 3054

Um mês após a morte de 199 pessoas no trágico acidente do avião da TAM do vôo JJ 3054 que saiu de Porto Alegre e aterrissou na patética pista de Congonhas e explodiu no choque com o prédio da própria Companhia do outro lado da Avenida, duas certezas. A primeira, mais emblemática e óbvia é que a dor das famílias das vítimas não tem cura. Só quem viveu aquele vestibular da lista dos passageiros pelo rádio, nome a nome sendo anunciado, sabe o que é uma perda como esta. Ou nem sabe dimensionar tamanho sofrimento, incalculável. A segunda, menos explícita, é de que a tragédia do cotidiano continua.
Vendo hoje as imagens do acidente, das famílias chorando, da reconstrução da televisão tentando ilustrar e encontrar uma explicação das causas do acidente - se foi ou não foi a turbina, o avião, o piloto, a falta de ranhuras, da pistas, ou é isso ou aquilo - nada me tocou mais que as lágrimas e os depoimentos das famílias, principalmente daquelas que não tiveram nem o direito ao sepultamento de seus pares. Pior que isso foi ouvir os comentários dos integrantes da
CPI do Senado e da Câmara a respeito do assunto. E mais estúpido é o novo Ministro Nelson Jobim que já se fardou de militar, colocou capacete de bombeiro e dá agora uma de Collor. Sinceramente, depois do caçador de Marajás, só o que faltava um caçador de Ananás para não dizer abacaxis do caos aéreo.
Vivemos nós num
vôo cego sem controladores do tráfego aéreo, dos juros, dos impostos, sem recolhimento de lixo, mas com recolhimento voraz de taxas e mais taxas. O que os impostos deveriam pagar nos pagamos em dobro para garantir saúde, estradas asfaltadas, ruas seguras, iluminação e até engordar o bolso dos funcionários corruptos, enquanto o programa de qualquer governo não engorda mais o bolso de ninguém. Pelo contrário, emagrece e joga crianças nas ruas como trapos, como panos de chão. E a sociedade, que não tem nem tempo para protestar, trabalha em silêncio num vôo cego.
Claro que interessam as
investigações do vôo JJ 3054, mas ali estará o detalhe do acidente. Mas na falta de controle geral da nação está o motivo geral de todos os caos que vivemos. É só caminhar pelas ruas, olhar para o chão. Vivemos entre ruas esburacadas, sujas, mergulhamos em rios e praias poluídas, respiramos um ar pesado, viajamos em estradas federais em péssimos estado de conservação. Vivemos numa falta de controle de memória. A BR-101 no trecho sul está para ser duplicada desde o primeiro mandato de FHC e Lula vai chegar ao fim do segundo mandato sem a conclusão das obras. São quase 16 anos de obra. Passaram-se quatro copas do mundo, um Pan no Brasil e ainda não temos via dupla entre Porto Alegre e Florianópolis. Sinceramente, o povo brasileiro que não vê isso é feliz porque tem esperança, o que enxerga prefere desistir e pensar só no seu umbigo para garantir o ganha pão e aqueles que são os controladores do Brasil nem decolam. Sou a favor de uma reforma política de verdade que inclua a cassação do mandato imediato de quem trocar de partido independente do período, pois existe uma prostituição partidária. E o voto não pode ser obrigatório no Brasil. Assim, só quem enxerga vai poder limpar a sujeira que nos faz derrapar na decolagem. Mas não. O voto cego é prioridade, o vôo cego é a nossa ideologia. Viver historicamente escolhendo os pilotos que não conseguem decolar.

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