8 de jul. de 2009

Lula fala o quê querem ouvir


Nunca tivemos um presidente tão popular. Lula é um fenômeno. Ele fala tanto que muitas vezes tropeça na língua portuguesa ou às vezes na própria língua que poderia ter ficado mais presa do que já é. Mas ele tem língua solta. Longe de ser afiada, é uma língua que mais parece uma faca de nó cego. Não corta ninguém, só amacia. Lula consegue defender o Sarney e sair ileso junto à população. Não importam as críticas do que ele faz, ao que o PT fez, ao que o governo deixou de fazer ou aos escândalos que se amontoam a cada governo. Lula lambe o povo e a o povo baba por Lula.
Às vezes fico imaginando se esta baba toda não contaminou a todos nós e realmente o Lula é o quê pensamos que ele é, ou parece não ser o quê imaginamos que seja. Aquela fala rouca com a língua presa igual a do Vicentinho e do Romário, aquele paletó meio apertado na barriga de torcedor do Corinthians de arquibancada, aquela barba de metalúrgico, tem algo de especial de simpático. Aquilo tudo contagia. Não lembro de uma criança que diga: "Eu não vou com a cara dele, odeio o Lula." É aquele ar de sapo barbudo que o Brizola falava. Não tem como odiar aquele personagem.
Claro, uma criança filha de um anti-Lula vai logo de cara dizer que odeia ele, assim como diria que odeia o Flamengo se o pai vascaíno tivesse feito uma boa lavagem cerebral. O mesmo vale para quem paga imposto e só se ferra, trabalha mais que antigamente e trocou o Vectra pelo Gol bola. Para classe A, classe média, é dolorido perder. Ainda mais quando muita gente está ganhando e como. Quem não mandou o Lula longe até quando paga IPTU que é imposto da prefeitura, ou ficou furioso com o condomínio e descarregou tudo "neste governo desgraçado". "Tudo é culpa do Lula" "Governo de m." e até mesmo uns F.D.P de vez em quando. Como diz o vídeo que tá no You Tube. Às vezes é bom mandar T N C. Tudo isso, no entanto, é impulso. Não é de cabeça fria. É igual a época do Itamar, do Collor, do Sarney, do FHC. O governo sempre é uma bosta. Nada presta. Chega-se ao extremo de querer a ditadura de volta. Claro, cada um defende o quê lhe é mais conveniente.
O que mais deve doer no coração dos opositores de Lula é esta popularidade gratuita. Ele é um líder carismático, ao natural. Tem suas virtudes com propostas populares, equilíbrio na economia brasileira e avanços durante seu período de gestão. Para Fernando Henrique deve ser difícil aceitar que o País quase nem se lembre quem ele foi diante de Lula. Estudou, rodou o mundo, leu bibliotecas. Mas foi o metalúrgico que ganhou o elogio do presidente americano. Obama disse: Esse é o cara! O mesmo Lula que cuspia nos microfones por greves, por redução das regalias da elite e vomitava contra o FMI, foi lá e emprestou dinheiro para o banco mundial.
No fundo, o povo encara o Lula como um Garrincha que dribla os João e faz o gol. Não tem técnica, nem estratégia de campanha. É no talento brasileiro, no jeitinho nosso, na base do vamu que dá. O povo adora isso. O pobre que superou os 'rico'. Ou seja, o Lula é a cara do Brasil. Não somos nehuma Lady Di, tampouco temos aquela cara amassada dos Bush, Regan, Carter com piadinhas bem piores que as do Lula. O Lula é o pobre que deu certo e superou a todos. É o representante da maioria da população que adora ele como pessoa, não como político, como presidente executivo, mas como presidente artístico.
Lula foi o primeiro presidente a sentar na bancada do Jornal Nacional. "Boa noite Fátima, Boa noite Bonner". Ele era ali a maioria do País ao lado dos maiores apresentadores da TV brasileira. O presidente do Brasil é intocável. Virou ícone do Brasil sonhador, cheio de fé e esperança. Ele tem a mesma capacidade de cativar as pessaoas que tinha o Papa João Paulo II.
O PT, o governo, os ministros, estes sim têm tropeços gigantescos. É só perguntar para as pessoas nas ruas. Tá bem o Brasil? Não, tá uma porcaria, eu não tenho isso, não consigo aquilo e pago imposto, etc. Mas a culpa é do Lula? Não! Dirá a maioria. Um ou outro mais esclarecido ou por interesse dirá que ele é o culpado. Mas Lula está acima de qualquer problema de governo, de erros, de crises. Ele é o bobo da corte, mas que de bobo não tem nada. Fala o quê as pessoas precisam ouvir neste gigante divâ de carências do Oiapoque ao Chuí.
A vitória de um governo, de um líder, não é o placar do jogo. Não são os resultados do governo que fazem de Lula um campeão, mas aprovoção dele junto da maioria. E olhem como a baba é quase inevitável. Hoje, quem tem condições de empatar com Lula na próxima eleição? Nem FHC, Aécio Neves, nem José Serra. Vai ser difícil assumir o próximo governo com esta sombra, esta onda pró-Lula. Não são os analistas que vão fazer o diagnóstico do bom ou do mau governo. São as urnas.
Se Dilma Russef for a candidata de Lula, pode perder feio porque ela nem ninguém é o Lula. Ela tem a cara do governo, Lula é o povo. Mas a próxima eleição já está ganha para o Lula e o PT. Se eleger o próximo presidente, o Partido dos Trabalhadores estará consagrado, não apenas Lula. Em caso de derrota, será uma barbada notar que a população logo sentirá falta de Lula. Aí quando o povo não aguentar mais de saudade dele, voltará para um novo ciclo de governo mais consagrado ainda. Ele será a solução de todos os problemas. O Brasil só precisa descobrir se consegue assumir que não tem cara limpa. Ela é barbuda, suada, bebe cachaça e torce pro Timão. Não sou eu, nem você, pode ser o vizinho. Mas é a maioria. E como diria Collor: Duela a quem Duela. Ou Zagallo: Vocês vão ter que me engolir.

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