Sei que a justiça possui uma balança como símbolo e é possível interpretar leis, se socorrer de jurisprudências, entre outras análises jurídicas que permitem uma espécie de bipolaridade das decisões. Um dia o fulano é ladrão, no outro é vítima. O caso do banqueiro Daniel Dantas, do ex-prefeito de SP Celso Pitta e do empresário Naji Nahas é mais uma exposição da fragilidade da justiça brasileira. Os três são poderosos e ricos e por isso estão nas manchetes da mídia e têm o privilégio da análise do Presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, do Ministro da Justiça, Tarso Genro; de juízes, juristas, e dos principais analistas econômicos e políticos do País. Até mesmo do Timor-Leste, o presidente Lula deu seu parecer sobre o caso elogiando a PF.
O foco das prisões e dos crimes cometidos foi desviado para uma crise da justiça brasileira. O Ministro da Defesa, Nelson Jobim, que foi Presidente do STF, disse que o Habeas Corpus é uma garantia constitucional, justificando porque Daniel Dantas pode estar solto aguardando julgamento. Gilmar Mendes reforça que a prisão foi desnecessária e surge o boato de que a PF agora estaria investigando o gabinete do Ministro. Tarso Genro alega que tudo é fofoca para gerar conflitos entre os poderes. "O que o povo espera de um juiz é a imparcialidade e ficar livre de qualquer influência ou pressão”, disse o juiz federal Fausto de Sanctis em entrevista à Globo News. Sanctis decretou a segunda prisão de Dantas e foi acusado de arbitrário pelo preseindete do STF.
Toda esta discussão remete a Polícia Federal e o Governo Federal a um embate com a Justiça. É inegavelmente um choque do executivo com o judiciário. Por muitos anos, os poderes políticos - quais são executivos e legislativos - estiveram em descrédito com a população. Agora, chega a vez de a população analisar com profundidade o que está acontecendo com o judiciário. Nossa democracia permite questionar juízes, desembargadores, Ministros e Presidentes dos órgãos da justiça brasileira. É preciso que a justiça seja julgada, que o poder judiciário seja réu neste momento. Quem tem o poder de condenar, soltar e prender, precisa estar sujeito ao mesmo julgamento quando surge um debate como estes.
Todo cidadão tem o direito de se defender e a obrigação de justificar seus atos. Ou a Polícia Federal está errada, ou a Justiça Federal errou. Este pingue-pongue de prisões é um jogo muito sério, sem um juiz que defina quem ganhou e quem perdeu. Não cabe empate em decisões da justiça, ou a balança vai para um lado ou vai para o outro. O mais preocupante é que mais cega que nunca não é a justiça, mas a população que não tem condições de julgar quem está certo e quem está errado neste episódio. Quem de nós não se sente impotente diante da fragilidade dos poderes que acusam e prendem ricos e poderosos num dia e soltam e defendem na manhã seguinte?
Veja o comentário de Arnaldo Jabor no Jornal da Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário