8 de set. de 2010

A Dança das Cadeiras


Tentei ver a política como o futebol. "Time que está ganhando não se mexe!". Mas me quebrei. O problema é que no campo de jogo os resultados são bem objetivos: vitória, empate e derrota. No final da temporada, o que teve os melhores números é o campeão. Já no campo político, existe uma série de resultados - econômicos, socias, etc - e mesmo somando tudo isso nunca se sabe qual é o melhor placar final. Até porque cada cidadão torce para o seu interesse e não para o time, o coletivo. E o pior, muda o poder, mas não muda a política. É um troca-troca. Todo mundo vira a casaca nesta Dança das Cadeiras. E a gente na torcida.
O sistema político no Brasil é tão complicado que mudaram o regulamento da competição para melhor, mas pioraram a torcida. Quando havia ditadura, as pessoas tinham muito mais atitude do que o voto. Em seguida, teve a época de um grande clássico nas urnas: Arena x MDB. Direita contra esquerda. A discussão nos bares, nas esquinas, era mais fácil. Futebol e política, Diretas Já! Hoje, os partidos são uma sopa de letrinhas de um caldo cheio de temperos. Uma confusão, que no meio dos ingredientes tem sempre o PMDB, o centro desta cozinha democrática.
Nada como a liberdade de imprensa, de expressão, da democracia. Ufa! Mas agora, a cada quatro anos, o cidadão aperta um botão verde e confirma: "já fiz a minha parte". Isso é o mesmo que comprar uma camisa do Flamengo, passar na frente do Maracanã e não saber que o time está em campo. Aí, nesta véspera de mais uma eleição presidencial, tenho recebido e-mails de muita gente desesperada porque a Dilma vai ganhar. Uma vasta documentação pró Serra, anti Lula, ou vice-versa. Todo mundo de olho no jogo, mas sem exergar o mesmo.
Aqui em Porto Alegre tem um candidato a deputado que numa placa diz: Construiu o Camelódromo". Não foi ele quem construiu, foram os operários! É mais um exemplo do "Eu fiz, eu vou fazer". Quem faz a verdadeira política somos nós cidadãos. Independente de quem ganhar, assim como tem gente empilhando tijolo para construir algo melhor com trabalho, temos que trabalhar honestamente, lutar pelos nossos direitos nem que seja na justiça cega e cobrar pessoalmente de quem está no poder.
Não adianta entulhar as caixas de e-mail com textos do Arnaldo Jabor, denúncias duvidosas, provocações invisíveis. Nada de cara pintada, é cara limpa e olhos bem abertos para enxergar os sucessíveis escândalos de governo da Era Collor, Sarney, FHC ou Lula. Ou seja, no quesito "corrupção" todos já tiveram seus troféus. E já que o eleitor adora teclar e clicar, aproveita e pesquisa tudo no Google. Tem muita lama no tapete presidencial.
Neste gigante jogo do poder, todos nós podemos participar com corpo a corpo, principalmente no trabalho, no bairro, na cidade, no Estado e só depois na Nação. Até porque na política quem deveria jogar é a massa, é o povo. E quem torce para que a gente não entre em campo é o time do poder. Por quê não ir à câmara de vereadores ou a secretaria de transporte municipal quando não há ônibus na sua rua? Ou é melhor ficar torcendo para que um parlamentar jogue por você?
Eu fico na torcida de que com Dilma ou sem Dilma, com Serra ou com quem quer que seja eleito hoje, amanhã e sempre, o Brasil siga avançando em busca de melhores resultados. Mas enquanto houver este enorme atraso de infra-estrutura, na educação, na saúde, de nada vai adiantar o crescimento econômico. E, se ainda existir miséria e gente passando fome com tanto desperdício do dinheiro público e o volume dos impostos cobrados, me sentirei derrotado. Em vez de só apertar o botão na seção eleitoral e comemorar o título de eleitor é preciso vestir a camisa do cidadão e entrar em campo. Se vamos ganhar não sei. Afinal, a Dança das Cadeiras não é futebol, mas também é um jogo.

Um comentário:

rejane disse...

A escolha da foto foi sensacional. Vale por três laudas!
É verdade que a política partidária tradicional nos desilude e irrita. Concordo com tua observação de que na época da ditadura as pessoas até tinham mais atitude.
Talvez a saída também seja a que apontas, nada de ficar enviando "correntes indignadas pela internet", mas atuar realmente, ir nos órgãos responsáveis, exigir. Afinal, mesmo que influencie tremendamente, o ato de votar é apenas mais um dos vários atos políticos.

Rejane Penna Martins